Três Namoradas

Ouve-se uma criança ao fundo da rua. A rua é escura mas a voz é clara. Alguém lhe segura a mão, nota-se pela ternura do gesto que deverá ser sua mãe. A sua mãe parece escutar com paciência enquanto caminham para cá do fundo da rua. As palavras embrulhadas começam a desenhar-se com maior nitidez: Então eu corri atrás dele, mas ele foi mais rápido e fugiu. Depois a Maria olhou para mim e deu-me um beijo e perguntou-me se queriamos ser namorados e eu disse que já tinha duas namoradas e gostava muito que ela fosse a minha terceira namorada. Mãe, o amor à terceira é que é de vez, não é? O senhor Albertino é que está sempre a dizer que as coisas à terceira é que são e eu já sei contar até cinco, mas com a Maria não precisava de contar até tanto, porque ela é a mais bonita de todas as namoradas e os olhos dela são azuis e tem o cabelo longo. Mãe, a Maria pode ir lá brincar a casa na sexta à tarde?
Manuel, tu tens é que aprender a fazer contas de subtrair, que só podes ter uma namorada de cada vez!
Aquela rua era longa.